Friday, August 8, 2008

Entender um pouco do meu pai é entender um pouco de mim!

O dia dos pais ta chegando... o que me fez refletir sobre meu papi!



74 anos, é o que dizem seus documentos. Ele jura que nasceu 2 anos antes... eu hein... se fosse eu diria 2 anos depois rsrsrsrs



vindo de uma família sem muitas posses, o segundo mais velho de 7 irmãos se não me falha a memória... por algum motivo que nunca me ficou muito claro, nunca fomos muito próximos a família dele. Talvez ele guarde consigo alguns detalhes que não mereçam ser mensionados... Seu pai, um velho maquinista, bem bruto, segundo contam. Dele ouvi histórias como esta: um dos irmãos do meu pai faleceu quando criança e alguém foi dar a notícia ao velho que estava prestes a partir a trabalho. e ele respondeu... "pois salgue ele e coloque na geladeira pra quando eu voltar." grotesco demais pra ser verdade. meu pai conta isso às gargalhadas. mas se ele exagera tanto assim, o indivíduo não devia ser lá boa coisa... ficou cego no fim da vida e morreu no mês em que a caçulinha aqui do papai nasceu...



Tenho lembranças bem antagônicas do meu pai durante minha infância. momentos bem felizes, outros bem desagradáveis. o fato de ter tido o pai que teve explica muito de seu comportamento por vezes agressivo. seus berros de ameaças me faziam chorar, muito embora, na maioria das vezes ele desistisse do cinturão... e sempre depois da raiva, ia pedir desculpas. Acho que a minha dificuldade em aceitar uma perda vem dele, da maneira como ele costumava agir. A sensação de abandono, a indiferença de alguém que amo, me deixam desolada.Tenho lembranças bem nítidas dele aos berros com a minha mãe que só chorava sem dizer uma palavra. arrumava as "coisas" dele em uma bolsa qualquer e dizia que ia embora. Eu, ali, inerte, chorando... vendo meu pai nos abandonar... ao final ele se aproximava de mim e arriscava um "não se preocupe que eu mando dinheiro pra minha 'fia' viu" e partia. a noite tava de volta, de cara lisa. Algumas vezes ele ia e reaparecia depois de uma semana... um mês... dois... Minha mãe, coitada, passava noites em claro imaginando sempre o pior. numa dessas vezes chegou ao extremo de procurá-lo até no necrotério. E sempre depois do desespero de infindáveis dias sem notícias, começavam a surgir boatos de que ele foi visto em algum bar jogando baralho... o vício! ele sempre voltava em silêncio, ficava por ali até que com o passar dos dias tudo voltasse ao normal e todo mundo mundo fingisse que nada havia acontecido. Que mal me fizeram esses episódios que tive que assistir de camarote. Fico pensando nos meus irmãos que passaram por coisas piores pois na época deles havia um agravante... meu pai era alcoólatra!


Na minha adolescência passei alguns vexames por causa dele. Eu saía com alguma turma de colegas e ele ia me buscar gritando de longe: "passe pra casa! isso são horas?" e não pense que isso acontecia altas horas da madruga, mas algo do tipo 10h... eu vivia frustrada com a possibilidade de um mico desse porte voltar a acontecer e por conta disso, minha companhia era um tanto desagradável... "quero ir embora!! vamos pra casa agora por favor, por favor..." quem queria sair comigo nessas condições?? a minha salvação foi ter me aproximado da família da Dany, minha Amiga (com A maiúsculo). As vezes ia dormir lá e saía com eles. Bons momentos aqueles que merecem ser postados aqui qualquer dia...

Enfim... mensionei que tenho lembranças boas do meu papi também mas até agora só desgraça... bom, apesar de tudo, ele, à sua maneira, sempre amou aos 3 filhos de forma incondicional. Como ele sempre diz... somos o orgulho dele rsrsrs sempre fui a mais mimada, bom, sou a caçula né... quando criança costumava abraçá-lo, beijá-lo, mexia nos cabelos dele, nas costas... ele era meu herói, ainda conseguia ver nele a minha maior fortaleza, se ele tava do lado nada podia me atingir. Lembro que sempre que tinha uma visita em casa ele fazia questão de me mandar pegar meu caderno da escola pra mostrar com orgulho a letra da filha caçula. Eu ruborizava, reclamava... mas bem no fundo havia uma ponta de satisfação... quando ele trabalhava fora a semana inteira, sempre voltava nos finais de semana com algo pra mim. um chocolate, uma balinha... aliás o que eu pedisse ele prometia trazer na próxima semana, o que quer que fosse... até que um dia percebi que, compenetrado com a leitura de domingo a única coisa que ele queria era um pouco de paz e pra isso me prometia o mundo se preciso. "Pai!! quero um piano de calda!" "espere pro próximo domingo que eu trago minha 'fia' " tem algo errado ai... hehehe

Procuro entender o comportamento dele ao longo da vida. Não sei ao certo o que o motivava a desaparecer de casa de tempos em tempos, coisa que aliás, de vez em quando nos dá vontade de fazer... ele casou tarde com a minha mãe, aos 35 anos! talvez sempre tenha tido um espírito aventureiro, longe da rotina a que a vida de casado nos submete e essa era sua forma de sentir-se um pouco livre... hoje, aos 74 anos, ele se acalmou mais... mas ainda dá umas escapulidas... as vezes sai pela manhã e só volta a noite. rsrsrs ainda me trata como a bebezinha dele. sai na rua e chega no portão gritando: "olha o que eu troxe pra minha 'fia' " e me aparece com um biscoito recheado, alguma fruta e até balinhas. as vezes algo que eu nao to nem um pouco afim de experimentar mas o faço pra satisfação dele. se não como ele pergunta a cada 15 min... "já comeu?" sinto falta dos abraços, beijos, cafunés... mas a vida, a adolescência, a sua forma peculiar de agir me afastaram desses momentos. Aos poucos estou me reaproximando e me sentindo a vontade pra arriscar um beijinho no rosto... de qualquer forma ainda me sinto como o bebezinho dele e sinto sim orgulho daquele 'veio' que viveu a vida trabalhando pra nos dar a vida que ele podia dar...

Se ele fosse ler isso algum dia, eu pediria desculpas pelo desabafo... mas também agradeceria por ser quem eu sou! Im not that bad... am I???

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