"Ontem meu médico falou que a minha taxa de colesterol ta bastante elevada" dizia ela esboçando um sorriso no canto esquerdo dos labios logo depois de cuspir no ralo da pia uma gosma esverdeada. Mostrava certo prazer em colecionar doenças. exibia com algum orgulho prescrições médicas como se fossem diplomas. Nao me admiraria vê-los emoldurados decorando a parede da sala de estar tal era sua afeiçao pelas patologias. Nos tempos de escola sempre que alguém citava algum nome de doença ela lembrava algum caso na própria família.
Vivia só e mantinha o habito pouco convencional de ler bulas de remédio por horas a fio. No trabalho se alguem se queixasse de uma dor na unha ela indicava um medicamento ressaltando inclusive os efeitos colaterais que o mesmo causaria.
Estava convencida de que sofria de alguma doença no coraçao que cedo lhe tiraria a vida. Por causa disso, doces e frituras nao faziam parte de sua alimentaçao, nao experimentou a montanha russa nem se aventurou nos escorregadores do parque aquatico que pra ela eram sinônimos de suicídio. Fugia das paixões para evitar palpitações mais fortes no seu músculo cardíaco.
Certo dia depois de sentir mais uma vez seu coraçao ligeiramente acelerado, decidiu constatar de fato o que ela sempre soube e submeteu-se a uma bateria de exames. Passados os dias, voltou ao consultório médico para enfim receber sua sentença de morte com a tenacidade de quem aceita seu destino.
O médico, um homem de meia idade, cabelo grisalho, observou os exames com certa frieza e olhou pra ela por cima dos óculos dizendo que nao havia nada de errado com sua saúde e ja dava sinais de que iria atender ao próximo paciente.
Ela se foi... muda,deprimida, decepcionada com sua sentença... a vida!
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